COM VOCÊS A SUPER VOVÓ CECÉ DE CAETÉ

Descobrir por onde ela andava, foi um presentão que ganhei neste Natal da COVID-19

(TEXTO PRODUZIDO PARA A COLUNA CONVERSA DE VÓ DA CLAUDIA ONLINE)

Hoje vou falar de uma paixão antiga. Dos tempos em que eu escrevia sobre moda, usava franja e acreditava que um look podia salvar o dia (coitado do look!). 

LÁ SE VÃO OITO ANOS, DESDE QUE CONHECI CECÉ, EM CAETÉ

O ano era 2012 e numa passagem por Caeté, cidade pacata das cercanias de Belo Horizonte, me deparei com uma casa cor de rosa e, à porta, a dona Cecé, uma senhorinha sorridente de chapeuzinho de crochet, conhecida na região por sua destreza com as agulhas.

Não sei bem se foi só a hospitalidade mineira ou outra força que conduziu essa história, mas fato é que eu e mais três amigas, que íamos ali perto comprar uma rosca, acabamos entrando pela varanda de Cecé, sentando em seu sofá vestido de crochet e tomando de sua água que vinha de um filtro de barro, também meticulosamente trajado com um modelito dessa arte tão popular no interior.

NA CASA DE DE DONA CECÉ TUDO VESTE CROCHET

Passaram-se anos, e eu juro que de tempos em tempos eu perguntava para minha amiga de Caeté se ela tinha notícias de dona Cecé. Sempre muito apertada de costura, Nara Terra, uma artista que merece outra coluna, mas é novinha demais para o Conversa de Vó, me contava que o que se falava era queela havia se mudado para a capital para ficar mais perto dos filhos, pois a idade vinha avançando.

Neste Natal da COVID, tentei pegar meu “corona bônus” e falei mais uma vez com a amiga Nara. Disse que agora, mais do que nunca, saber de dona Cecé seria um presente pra mim. A notícia veio rápido de uma sobrinha, que por acaso ou não é gerontóloga e ama os velhos como eu: Gisélia Dutra de Oliveira, de 96 anos, a famosa vovó Cecé de Caeté vive hoje, em Belo Horizonte, num residencial sênior que fica a poucos metros da casa da filha, na região do Planalto.

QUANDO VISITEI DONA CECÉ DA PRIMEIRA VEZ, EU ERA UMA FOTÓGRAFA PIOR DO QUE SOU HOJE

Pelo telefone conversei com Sandra, uma mulher forte e simpática de 73 anos que me contou o que naquela excursão dos sonhos eu não fazia ideia. Sua mãe, uma espécie de filha para ela, passou a vida enfrentando problemas psiquiátricos graves e foi o crochet que a salvou, ou distraiu. Sandra ainda me disse que das agulhas hoje dona Cecé não sabe muito mais, mas que adorava receber as visitas (quando era permitido), vestindo seus chapéus feitos de crochê.

Eu também não sabia que ela virou queridinha de uma família tradicional mineira e vestia de crochet qualquer coisa que tivesse um formato e que com isso fez até um pé de meia.

Se tudo der certo, quando isso passar, Sandra vai falar com os irmãos e me levar para visitar sua mãe. Luxo na vida pra mim é isso.

NATALIA DORNELLAS – FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

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